IZA entrega ancestralidade e potência em “Caos e Sal” e “Tão Bonito”

A cantora IZA demonstra uma consciência rara de sua própria trajetória. Sabe exatamente de onde veio e para onde deseja seguir. Observadora atenta das múltiplas vertentes da música, construiu uma carreira que reflete suas vivências, marcada pela resistência de quem soube transformar cada obstáculo em um degrau para o crescimento.
Com uma trajetória já consolidada e a segurança de quem ocupa um lugar de destaque, IZA se prepara para explorar novos territórios musicais. Na última quinta-fera, 18, às 21h, ela lançou nas plataformas digitais os singles Caos e Sal e Tão Bonito, que marcam sua estreia oficial no universo do reggae. Para ampliar a experiência sensorial, as faixas chegam acompanhadas de visualizers que buscam traduzir, por meio de imagens, a energia e as mensagens de cada canção.

O projeto tem como fio condutor o conceito de “Kemet” — nome original do Antigo Egito, que significa “terra preta”. Unindo referências que atravessam a Etiópia e desembocam no Maranhão, IZA embarca em uma profunda celebração à ancestralidade. A artista resgata Kemet como berço de tecnologia, sofisticação e conhecimento, exaltando o legado de um povo preto que construiu uma das bases da civilização humana. Essa imersão propõe uma reconexão com a autoestima e o sentimento de pertencimento.
O registro audiovisual de Caos e Sal e Tão Bonito materializa essa pesquisa, com uma estética marcada por uma paleta de cores inspirada nos pigmentos ancestrais egípcios, que simbolizam realeza e espiritualidade. Texturas visuais, traços gráficos e um tom surrealista dão forma a símbolos e figuras emblemáticas como as deusas egípcias Bastet, Nefertiti e Cleópatra, além de faraós, esfinges e desertos — que remetem tanto a Kemet quanto aos Lençóis Maranhenses. A proposta ainda incorpora os Adinkras, ícones africanos carregados de saberes ancestrais, como o símbolo Sankofa.

A incursão de IZA no reggae não representa um desvio, mas sim a expansão natural de uma artista em constante evolução. Fiel ao seu público e atenta ao pulso das grandes cidades, ela imprime em sua música a essência dos lugares por onde passa. Mostra-se pronta para transitar por diferentes sonoridades, sem abrir mão da identidade que a tornou uma das vozes mais autênticas da música brasileira contemporânea.
— Sempre desejei explorar o reggae, um estilo que considero extremamente democrático por suas várias vertentes — do R&B ao rap, do tradicional ao dancehall. Assim como o samba, o reggae oferece uma riqueza sonora com a qual me identifico profundamente. Além disso, a mensagem de paz, amor, liberdade e consciência política, defendida pelos precursores do gênero, ressoa muito em mim. É um estilo que namoro há muito tempo — reflete a cantora.

Composta por IZA em parceria com Rafa Chagas, Nave e Fejuca, Caos e Sal se destaca pelos grooves marcantes e pelo balanço envolvente. A canção é um hino de afirmação pessoal, que transborda sabedoria ancestral — “Bem que minha vó falou / Que a força dos ancestrais / Nos protege da dor” —, ao mesmo tempo em que confronta estruturas de poder — “Gente querendo / Pensando que tá no comando / Que é dono de tudo / Que manda no mundo / Só fala e não quer escutar”.
— Caos e Sal nasceu há muitos anos. É uma composição inicial do Rafa Chagas, um artista incrível, de quem sou muito fã. Ele me deu esse presente e, quando comecei a pensar em fazer este álbum de reggae, essa música foi a primeira que veio ao meu coração — conta IZA.
Já Tão Bonito convida o público a um momento de leveza e intimidade. A faixa rompe fronteiras entre o R&B e o pop, incorporando elementos do afrobeat e de um reggae romântico, reafirmando a liberdade criativa que norteia a carreira da artista.
— Essa música nasceu da parceria com Nave e Fejuca. Eu já tinha trabalhado com Nave antes e com Fejuca em shows, mas é a primeira vez que produzimos um álbum juntos. Acho que Tão Bonito compõe bem a narrativa de reggae e afrobeat que quero contar neste projeto — afirma.
A performance vocal de IZA em Tão Bonito é um dos pontos altos do trabalho. Sua interpretação transmite sensualidade e segurança, sustentada por um arranjo que valoriza a entrega lírica e aprofunda a imersão do ouvinte.
Com o lançamento dos dois singles, IZA não apenas estreia em um novo gênero musical, como também reafirma seu compromisso com uma arte plural, que une ancestralidade, crítica social, feminilidade e paixão. Trata-se de um novo capítulo em sua carreira, em que a cantora explora diferentes mundos sonoros sem perder de vista sua essência e seu olhar atento sobre a realidade urbana.
Fotos: Divulgação, MarVin.